Mais vítimas relatam supostos crimes sexuais do padre Airton Freire
- Jason Lagos
- 24 de jul. de 2023
- 4 min de leitura

Vítimas que acusam o padre Airton Freire de abusos sexuais em retiros espirituais relataram os episódios em depoimentos exibidos pelo programa "Fantástico", da TV Globo, na noite do domingo (23). Após ser preso, o religioso foi internado no último sábado (22) em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, e transferido para o Recife, no domingo.
De acordo com as denúncias das vítimas, os crimes aconteciam na casa de taipa em que o padre morava. Ele é o fundador da Fundação Terra, instituição voltada para ações sociais no Interior pernambucano e do Ceará.
"A cena que eu encontrei foi o Airton deitado de bruços, com o lençol de seda. Ele disse: 'minha princesa, é o seguinte: eu passei a noite todinha pregando, rezando, principalmente por você, então eu queria uma massagem'", relatou ao "Fantástico" a personal stylist Sílvia Tavares, primeira pessoa a denunciar o padre Airton Freire.
Era o dia 17 de agosto de 2022 quando Sílvia recebeu um convite para passar na casa do padre, enquanto participava de um retiro espiritual na fazenda Malhada. Ela conta que, no dia seguinte, Jailson Leonardo da Silva, que trabalhava com padre Airton, levou ela ao local após encontrá-la no refeitório.
Na entrevista ao dominical, Sílvia disse que ao perceber que o padre estava nu, pulou da cama. "Para mim, ele era um santo. [...] Padrinho, o que é que está acontecendo?", perguntou ela, aos prantos, ao passo que o sacerdote respondeu: "Não está acontecendo nada".
A personal conta ainda que após pular da cama foi surpreendida por Jailson, que pegou uma faca e ameaçou dizendo que se ela colaborasse, ninguém morreria. Sílvia prossegue o relato afirmando que o padre Airton começou a se masturbar e disse para o funcionário cometer o estupro.
Além de Jailson, outro funcionário está sendo procurado pela polícia. Os inquéritos seguem em segredo de Justiça. A Polícia Civil de Pernambuco criou uma força-tarefa para investigar as denúncias. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) afirmou que cinco inquéritos já foram instaurados contra o padre com base nas denúncias.
Uma outra vítima, que não quis se identificar, relatou que foi levada para a casa de taipa por outro funcionário. Após tomar banho, o padre pediu uma massagem e apareceu sem roupa.
"Eu digo: 'padre, pelo amor de Deus, padre, se vista, se cubra, padre... Meu Deus, o que é que está acontecendo aqui?'". O capanga disse o seguinte: 'olha, o que acontecer aqui, vai ficar aqui. Você pode fazer o que você quiser com a gente, que vai ficar aqui'. Aí, o padre começou a se masturbar rindo", relatou.
A mulher contou que conseguiu fugir, mas foi ameaçada: "Cuidado quando passar na frente do canil, que você pode ser estraçalhada". Apesar disso, ela diz que conseguiu ir embora.
Outro depoimento foi de um homem que também não quis ser identificado. Ele trabalhava com o padre Airton quando foi dopado na casa de taipa. Segundo o relato, pegou uma garrafa de água por volta das 23h, bebeu e deitou na rede, tendo acordado às 5h do dia seguinte.
"Eu me acordei em uma cadeira que tem próxima da mesinha, só de cueca e senti meu corpo, né? A gente sente o corpo da gente diferente", contou.
O ex-funcionário disse que trabalhava "tomando conta" do padre, por quem tinha uma "consideração de pai". Segundo ele, o religioso já tinha tentado dopá-lo outras vezes.
"Dormia com ele, dava remédio. Às vezes, ele ficava gritando à noite, como se o demônio estivesse dando nele. Mas acho que era só uma forma de me manipular. Até ele conseguir, né? Porque ele tentou algumas vezes me dopar e eu consegui ver", contou.
O homem disse também que "outros meninos enlouqueceram" por causa dos abusos praticados pelo padre.
"Eu achava que era uma missão, para mim, fazer com que ele se endireitasse e fosse para o caminho certo, e sendo um verdadeiro servo de Cristo. Mas ele não me ouvia, dizia que eu estava louco, que eu estava com uma 'legião de demônios'. E eu sabia, sim, que ele fazia isso com outras pessoas, mas achava que era uma missão que Deus estava me dando", relatou.
Ainda de acordo com o ex-funcionário, há muitas vítimas que não têm coragem de falar, com medo, por falta de condições financeiras e uma "família estruturada" para levar o caso adiante.
Em nota, a defesa do padre Airton Freire afirmou que ele é inocente. A defesa disse que ainda não teve acesso à totalidade das investigações e, portanto, usará de todos os esforços para garantir o seu direito a um habeas corpus.
A nota também alega que o padre é um homem com sérias restrições de saúde, que se apresentou espontaneamente às autoridades quando foi decretada a prisão preventiva e que, além de não atrapalhar as investigações, não houve coação de testemunhas, nem risco à vida das supostas vítimas.
A Fundação Terra afirmou que segue com os trabalhos sociais em Pernambuco e no Ceará, além de rebater acusação sobre uma campanha feita pelo padre para arrecadar fundos para uma cirurgia nos Estados Unidos — que não foi feita.
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