Em áudios vazados, Mauro Cid critica Alexandre de Moraes e a Polícia Federal
- Jason Lagos
- 22 de mar. de 2024
- 3 min de leitura

O ex-ajudante de ordens da Presidência da República Mauro Cid reclamou do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em áudios enviados a um colega. As mensagens teriam sido trocadas no último dia 11, mas foram reveladas pelo site da revista Veja nesta quinta-feira, 21.
Em um dos áudios, Cid afirma que, em sua opinião, o magistrado estaria agindo de forma ilegal. O conteúdo tem 16 segundos de duração. Nele, o ex-ajudante de ordens e coronel do Exército também reclama da conduta adotada por parte de agentes da Polícia Federal (PF).
“Eles são a lei agora”, disse Cid, conforme um dos áudios revelados pela Veja. “A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público. Com acusação, sem acusação.”O objetivo de tudo, segundo Cid, seria pegar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ainda em relação à PF e a Moraes, Cid diz, conforme outro áudio, que os policiais teriam ficado assustados ao fato de ele dizer que o ministro do STF havia se encontrado com Bolsonaro fora da agenda oficial. “Ficaram desconsertados.”
De acordo com a reportagem da Veja, Mauro Cid seguiu com o envio de áudios ao colega, que não teve a identidade tornada pública. As críticas a Moraes prosseguiram. Em determinado momento da conversa, o comandante do Exército acusa o ministro de já ter sentenças prontas para, por exemplo, mandar prender aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta”, afirmou Cid. “Essa é que é a grande verdade, ele já tem a sentença dele pronta. Só está esperando passar um tempo, o momento que ele achar conveniente denuncia todo mundo. PGR acata, aceita. E ele prende todo mundo.”
Cid ainda diz que a polícia o pressionou a relatar fatos que simplesmente não aconteceram e detalhar eventos sobre os quais não tinha conhecimento. O tenente-coronel afirmou que policiais o induziram a corroborar declarações de testemunhas e apontou um delegado que o teria constrangido a reproduzir informações específicas, sob pena de perder os benefícios do acordo.
De acordo com o tenente-coronel, os delegados encarregados do caso só registravam as informações que se encaixavam naquilo que ele chama de “narrativa”. “Eu vou dizer o que eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”, ressaltou.
Nos áudios, além de tecer críticas à PF e a Moraes, Mauro Cid sugere que se sentiu pressionado a fechar acordo de delação premiada com a Justiça — o que ocorreu em setembro de 2023, quatro meses depois de ele ser preso por ordem do ministro do Supremo. “Se eu não colaborar, vou pegar 30, 40 anos [de cadeia]“, reclamou o ex-ajudante de ordens.
Na terça-feira (19), o advogado Cezar Bittencourt, que defende o tenente-coronel, disse que está completamente insatisfeito com o indiciamento dele no inquérito que apura a suposta adulteração com inserção de dados falsos do cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro
“[Estou] absolutamente insatisfeito com o indiciamento ali proposto. É inadequado, é impróprio, não foi o que a gente combinou, não faz parte do nosso acordo. É ilegal, é abusivo. Não concordo com isso”, disse Bittencourt.
“Nós vivemos numa falsa democracia, numa aparente democracia. Há um desrespeito do Poder Judiciário e às vezes também da Polícia Federal nos direitos do cidadão, do investigado e da sua defesa. Mas, eu não culpo aqui o delegado de polícia, culpo mais o ministro Alexandre de Moraes, ele é o comandante dessa investigação. Tem que respeitar o nosso acordo, isso [indiciamento] tá fora de questão”, disparou.
Clique no link abaixo e ouça os áudios do coronel Mauro Cid.




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