Autônomos se passaram por empresários em posts referentes ao 8 de janeiro, aponta estudo
- Jason Lagos
- 21 de ago. de 2023
- 2 min de leitura

Grande parte dos perfis no Twitter que postaram em apoio ao movimento do 8 de janeiro diziam ser empresários ou empreendedores, embora fossem, na realidade, trabalhadores autônomos.
Entre as mulheres, muitas usavam palavras positivas em sua descrição do perfil: "batalhadora", "esperança", "abençoada". Já os homens se identificavam por oposição -"anti-Lula", "contra a esquerda" e "contra o comunismo".
A partir de levantamento com quase 90 mil contas do Twitter, estudo mapeou o perfil das pessoas que publicaram pedidos de golpe, intervenção militar ou apoio aos ataques de 8 de janeiro em Brasília. Os dados foram coletados de 30 de dezembro de 2022 a 9 de janeiro de 2023.
Ao analisar a descrição dos usuários em suas contas de Twitter e links para sites pessoais, os pesquisadores encontraram uma linguagem comum nesse ecossistema, que vai além da identidade como cristãos, de direita, conservadores, patriotas e defensores da família e do direito ao porte de armas.
Muitos dos apoiadores do 8/1 se descrevem como empreendedores ou empresários, mas são, na realidade, trabalhadores autônomos: manicures, cabeleireiras, vendedores, eletricistas, como se verificou na análise qualitativa dos sites pessoais.
"Essa imagem de que os apoiadores do golpe eram integrantes da elite, empresários, empreendedores, não é exata -na realidade, ao se examinar, vemos que muitos são autônomos, longe de serem ricos", diz Rosana Pinheiro-Machado.
Ela é coautora do estudo, ao lado de Debora Diniz, professora da UnB, e Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), além dos pesquisadores Athus Cavalini, da Ufes, e Wagner Silva Alves, de Dublin.
No Twitter, as mulheres se mostravam mais devotadas ao ex-presidente Bolsonaro, e os homens, mais anti-Lula: 13% das mulheres e 9% dos homens incluíam o nome Bolsonaro em sua descrição, enquanto 1,5% dos homens e 0,1% das mulheres mencionavam ser contra o presidente Lula.
As mulheres tendem a enfatizar emoções positivas em suas descrições: "realizada", "feliz", "abençoada", "trabalhadora", "lutadora" e "superando obstáculos" e "esperança" foram as palavras mais frequentes. Isso não aparecia nas contas que se identificavam como homens, que normalmente diziam amar "Jesus", "família", "Brasil" e times de futebol.
Isso se contrapõe a características da extrema direita americana e europeia, que se destaca por emoções negativas entre os homens, normalmente raiva e ressentimento (contra imigrantes, globalização).
Nesse universo, os políticos mais retuitados, tanto por mulheres como por homens, eram o ex-presidente Jair Bolsonaro e os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO).
Já os sites mais compartilhados eram o Terra Brasil Notícias, Revista Oeste e Jornal da Cidade Online.
Créditos: Folha de São Paulo




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