Agricultores pernambucanos convivem com depressão, insônia e surdez por conta de parques eólicos
- Jason Lagos
- 14 de ago. de 2023
- 2 min de leitura

Pelo menos 120 famílias de agricultores de Caetés, cidade de 28 mil habitantes no agreste de Pernambuco, a 145 quilômetros do Recife, convivem com problemas de saúde causados por torres de energia eólica instaladas em duas comunidades rurais.
Com casos de depressão, ansiedade, insônia e até surdez, esses moradores tentam conscientizar agricultores de outras regiões a não permitirem parques eólicos tão próximos de suas casas.
Os moradores de Paulo Ferro e Sobradinho, onde mais de 220 torres foram instaladas a partir de 2014, relatam os problemas de saúde causados principalmente pelo constante ruídos dos aerogeradores e a necessidade de tomar medicamentos, com antidepressivos, ansiolíticos e remédios para dormir.
Além disso, os agricultores das duas localidades de Caetés também se incomodam com a sombra gerada pelas torres, que os assusta; com a possibilidade de que quedas das estruturas que têm cerca de 120 metros — um incidente com uma hélice de 50 metros já foi registrado em Sobradinho no ano passado; e com possíveis choques elétricos.
A moradora Roselma Oliveira, 35 anos, cuja casa quase foi atingida, disse que sua família ficou traumatizada. Ela é uma das principais lideranças da comunidade que viajam às cidades vizinhas para informar aos moradores e agricultores sobre os problemas causados pelas torres de energia eólica.
Esse movimento de resistência às eólicas deu resultado em pelo menos um local: moradores de Borborema, na Paraíba, desistiram de ceder suas terras para a instalação de parques na cidade.
No caso de Caetés, os moradores cederam suas terras com contratos com cláusulas de confidencialidade às empresas que operam os geradores. As pessoas são remuneradas com um porcentual da produção de cada torre, que chega a cerca de R$ 2 mil mensais.
Além disso, os contratos são por longos períodos. Um deles tem prazo de 49 anos. Com isso, muitos agricultores cederam suas terras e compraram casas na cidade.
A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), que representa as empresas do setor, reconhece os problemas de Caetés, e diz que os dois parques não são um exemplo a ser seguido, porque foram construídos sob uma regulação antiga.
Hoje, a lei exige que as torres estejam a pelo menos 400 metros de residências. Na França, a distância é de 700 metros. Em Caetés, a distância é de apenas 150 metros.
Já as empresas responsáveis pelos parques eólicos de Pau Ferro e Sobradinho, a Echoenergia e AES Brasil, afirmam que estão dentro das normas e que estão em contato com os moradores e vão tomar medidas para reduzir os impactos para a população local.
Atualmente, o Brasil tem 890 parques eólicos, responsáveis por 13% de toda energia elétrica gerada. Até o fim do ano, a expectativa do setor é chegar a mil usinas. O governo Lula anunciou para os próximos anos um investimento de R$ 50 bilhões na chamada transição energética.
Créditos: BBC Brasil
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