Público menor e ausências importantes em ato na Paulista geram mal-estar na direita bolsonarista
- Jason Lagos
- 1 de jul.
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Aliados de Jair Bolsonaro (PL) estão buscando entender os motivos da manifestação deste domingo (29), na avenida Paulista, ter atraído um público abaixo do esperado para os atos promovidos pelo grupo.
Enquanto parte do entorno do ex-presidente apontou falta de lealdade de aliados que faltaram ao ato, outras figuras próximas criticaram a organização da manifestação, que teria sido feita de modo a afastar políticos de centro-direita que orbitam o bolsonarismo.
Auxiliares ligados ao clã Bolsonaro enfatizaram a crítica à ausência de nomes como os dos presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda –que se uniram em uma federação partidária–, do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Até a noite de sábado, os organizadores davam como certo que Michelle e Nikolas não só participariam do ato como discursariam ao lado de Bolsonaro.
Além disso, o grupo viu oportunismo nas críticas feitas por Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo Lula. O governador de São Paulo, cotado como possível candidato à Presidência, mas que nega interesse, disse “fora, PT” duas vezes em sua fala e poupou o STF de críticas.
Para o grupo, o discurso não ajudou em nada, por exemplo, a defesa da libertação de presos como o general Walter Braga Netto, detido desde dezembro sob acusação de tentar atrapalhar as investigações sobre uma suposta trama golpista que, segundo denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), Bolsonaro teria liderado.
Sem citar nomes, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, divulgou um vídeo nas redes sociais comentando as manifestações e pedindo atenção a detalhes como “quem compareceu, quem não compareceu, como é que foram os discursos, quem é que faz o embate”.
Em autoexílio nos Estados Unidos desde março, ele é cotado como possível sucessor do pai em uma disputa presidencial em 2026.
O filho e a mulher de Bolsonaro são opções do ex-presidente para sucedê-lo nas urnas, uma vez que ele está inelegível por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Enquanto o deputado está no exterior, a ex-primeira-dama justificou a ausência dizendo que tinha um evento do PL Mulher em Roraima.
Por meio de sua assessoria, Nikolas Ferreira afirmou que não foi à manifestação porque compareceu a um casamento de sua família. A reportagem da Folha de São Paulo enviou mensagens para Nogueira e Rueda, mas nenhum deles respondeu.
O ato deste domingo foi a primeira manifestação chamada pelo ex-presidente após ele ser ouvido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes no inquérito da suposta trama golpista. Para dois dos presentes no ato ouvidos pela Folha, a conduta de Bolsonaro diante de Moraes pode ter contribuído para afastar parte do público, já que apoiadores esperavam uma postura mais reativa por parte do ex-presidente, além de uma defesa daqueles que foram às portas dos quartéis após a derrota nas eleições.
Aliados mais próximos de Bolsonaro, contudo, avaliam que o quórum menor neste domingo não tem relação com o episódio e também não indicaria uma diminuição de sua popularidade. Para esse grupo, além da ausência de aliados políticos, o baixo público tem relação com uma divulgação que teria sido mal feita nas redes sociais.
Um integrante do PL afirmou que expoentes políticos que poderiam ter comparecido ao ato, e que estiveram presentes em manifestações anteriores, não têm encontrado sentido em se deslocar até a Paulista para ficar longe de Bolsonaro. O acesso ao trio elétrico onde fica o ex-presidente é controlado pelo pastor Silas Malafaia, que também foi criticado.
Em seu discurso no ato da Paulista, o ex-presidente afirmou que quer ter a maioria do Congresso Nacional em 2027 para, dentre outras coisas, fazer frente ao STF. O cálculo leva em conta até mesmo o cenário em que um sucessor no bolsonarismo venceria a disputa pelo Palácio do Planalto.
O ex-presidente também passou a falar com maior frequência em ter a maioria na Câmara dos Deputados. Apesar de a Casa não ter o poder de levar adiante o afastamento de ministros do STF, foi nela que ficou emperrada a votação do projeto de lei da anistia aos presos e condenados nos atos do 8 de Janeiro.
Créditos: Folha de SP




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